As fontes que Camões terá usado na composição de Os Lusíadas têm apaixonado várias gerações de camonianos. Julga-se ter identificado com alguma segurança o chamado Roteiro da Viagem de Vasco da Gama e a História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, de Fernão Lopes de Castanheda. Mas ficam de fora as fontes que o poeta possa ter consultado para estudar os fenómenos naturais e astronómicos que refere com tanta precisão ao longo do poema.
É bem conhecida, por exemplo, a referência ao fogo-de-santelmo no Canto V – «Vi, claramente visto, o lume vivo/ Que a marítima gente tem por santo». É bem conhecida também, a descrição da tromba de água - «Eu o vi certamente (e não presumo/ Que a vista me enganava): levantar-se/ No ar um vaporzinho e sutil fumo» (V, 19) - e sabe-se, por comparação de conteúdos, que poderia ter sido baseada no Roteiro de Lisboa a Goa de D. João de Castro, de que devem ter corrido cópias manuscritas nos tempos de Camões. Mas é verdade que o poeta, tendo singrado os mares, pode ter usado directamente a sua experiência e observação, como, aliás, o dá repetidamente a entender.
Quando descreve alguns fenómenos astronómicos, Camões não pode, contudo, ter-se baseado apenas na sua experiência nem em leituras secundárias. «Nem me falta na vida honesto estudo», diz quase no fim do Poema, «com longa experiência misturado» (X, 154). A precisão com que fala da «grande máquina do Mundo» (X, 80) e se refere repetidamente a difíceis conceitos astronómicos indica ter-se baseado no «honesto estudo» da cosmologia da época.
Luciano Pereira da Silva (1864-1926) foi o primeiro a analisar sistematicamente as referências astronómicas do Poema. Num trabalho clássico, publicado primeiramente entre 1913 e 1915 na «Revista da Universidade de Coimbra» e depois editado em separata com o título A Astronomia de Os Lusíadas, em 1915, este professor de matemática de Coimbra mostra que «Camões tinha um conhecimento claro e seguro dos princípios fundamentais da astronomia, como ela se professava no seu tempo». E conclui que o poeta deve ter estudado as Theoricae Novae Planetarum de Jorge Purbáquio (1423-1461), obra que veio a lume em 1460 e teve larga difusão pela Europa. Em Portugal, a obra de Purbáquio chegou, nomeadamente, através de tradução e comentário que Pedro Nunes (1502-1578) fez incluir no seu Tratado da Sphera de 1537.
O estudo de Luciano Pereira da Silva esteve esgotado durante muitos anos. Foi reeditado em 1972, mas essa edição também se esgotou.
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